Seropédica, 29 de maio de 2025 — O campus da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) sediou a exposição itinerante “Museus e Artes Nômades: Difusão de Culturas e Expressões Artísticas Indígenas”, uma iniciativa voltada à valorização da memória, das expressões artísticas e da resistência dos povos originários do Sudeste, em especial da etnia Puri. O evento contou com a presença dos artistas indígenas Dauá Puri e Sol Puri, e mobilizou um público expressivo e participativo ao longo de todo o dia.

Vista geral das barracas instaladas no pátio da universidade.

Sol e Dauá Puri fazem o ritual de abertura da Exposição. Outras linguagens dentro da universidade.
Vivências e Engajamento da Comunidade Acadêmica e Escolar
Realizada no Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS) da UFRRJ, a exposição atraiu entre 150 a 200 pessoas, entre estudantes universitários, professores, pesquisadores, servidores técnicos e visitantes externos. Um dos destaques foi a participação ativa de estudantes do ensino médio da Escola de Formação de Professores Presidente Dutra, também de Seropédica. Os alunos não apenas visitaram os estandes, mas também se envolveram em rodas de conversa, onde compartilharam reflexões sobre identidade étnica, racismo e ancestralidade indígena.

Estudantes do ensino médio observam os painéis da exposição “Atlas Etno-Histórica Digital”.
A mostra se destacou por criar um espaço sensível de escuta e fala: diversos participantes relataram histórias familiares, memórias afetivas e narrativas pessoais relacionadas à sua origem indígena — um momento de ressignificação e fortalecimento da autoidentificação étnica.
Exposição: Expressões Materiais e Vivas da Cultura Puri
A exposição incluiu barracas temáticas onde estavam expostos objetos, artefatos, tecidos bordados com a escrita Puri, instrumentos musicais tradicionais, brinquedos artesanais e pinturas. Cada item revelava a potência de uma memória antes silenciada, agora visibilizada e celebrada. Os visitantes puderam dialogar diretamente com os artistas, que também são fundadores de instituições culturais fundamentais: Museu da Cultura Puri, por Dauá Puri, e Centro Cultural Uchô Nhãmanrúri, por Sol Puri.
As peças exibidas iam além do valor estético — eram carregadas de sentidos e histórias. Os materiais dialogavam com temas de resiliência, territorialidade, espiritualidade e descolonização dos saberes.
Educação e Descolonização do Conhecimento
Um dos momentos mais marcantes do evento foi a exibição do documentário “Do Índio ao Caboclo”, seguida de um debate conduzido por Andrey Cordeiro. O público foi instigado a refletir sobre os limites e as possibilidades de se ensinar história indígena sob perspectivas descoloniais, assim como os atravessamentos entre autoidentificação e invisibilização institucional.
Na sequência, uma roda de conversa com Dauá e Sol Puri aprofundou os temas centrais do evento: a ressurgência Puri, a organização política indígena contemporânea, e os vínculos entre agroecologia e modos tradicionais de vida. Os diálogos ressaltaram como os “Museus Nômades” são mais do que acervos: são experiências vivas, móveis, pedagógicas, com raízes nos territórios e corpos indígenas em movimento.

Artefatos e expressões artísticas Puri dispostos sobre mesa.

Mesa de Encerramento
Ambiente Cultural, Intergeracional e Interativo
O clima do evento foi de troca afetiva e intercultural. Em momentos de maior movimentação, formaram-se rodas de cantos e conversas que reuniram estudantes, crianças, idosos, docentes e representantes indígenas. As imagens registram bem esse espírito: barracas decoradas com grafismos e tecidos, visitantes observando atentamente os objetos expostos, jovens emocionados em compartilhar suas descobertas genealógicas e culturais.
A disposição das barracas ao ar livre, no pátio entre os blocos do ICHS, contribuiu para um ambiente aberto e acolhedor. Placas explicativas, banners e atividades musicais contribuíram para aproximar ainda mais o público da proposta do evento.

Jovens reunidos em frente à bandeira do território Puri estendida no chão, escutando os artistas indígenas com atenção.
Apoios e Realização
O projeto “Museus e Artes Nômades” é uma realização do Museu da Cultura Puri e do Centro Cultural Uchô Nhãmanrúri Puri-Coroado, em parceria com o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Etnicidade, Território, Natureza e Autonomias (NEP-UFRRJ). A iniciativa conta com o apoio da Bolsa Marcantonio Vilaça de Artes Visuais da FUNARTE, do Ministério da Cultura e da própria UFRRJ.
Depoimentos e Legado
O evento em Seropédica marca um ponto alto no processo de visibilização e valorização das culturas indígenas contemporâneas no Sudeste. Depoimentos colhidos durante a exposição apontam para um processo contínuo de conscientização identitária e de construção coletiva da memória, não apenas como algo do passado, mas como algo vivo, presente e transformador.
Conclusão
A passagem da exposição “Museus e Artes Nômades” por Seropédica demonstrou a força dos encontros que conectam arte, memória, política e educação. Através de objetos, gestos, falas e vivências, o evento reafirmou o papel transformador da cultura indígena na construção de uma universidade e de uma sociedade mais plural, consciente e descolonizada.

Grande roda de partilha ao ar livre com representantes indígenas e participantes formando um círculo.