Projetos de Pesquisa (2010-2019)

Autonomias e Insurgências

2014 – 2016: Saberes Subalternos, Insurgentes e Descoloniais

O projeto surgiu da constatação da inexistência de materiais didáticos suficientes para os cursos de graduação em ciências sociais bem como para o ensino de sociologia no ensino médio, que reflitam determinados saberes subalternos, insurgentes e descoloniais. Apesar das orientações curriculares apontarem para a pluralidade epistemológica/ideológica e para a diversidade cultural, existem ainda grandes dificuldades em traduzir essa diversidade na formação profissional em ciências sociais e na formação escolar. Nesse sentido, diversas formas de saber (dos trabalhadores que se insurgiram contra a exploração e as desigualdades sociais, povos que questionam as narrativas dominantes da história da formação da nação) são invisibilizados e tem pouco espaço no sistema universidade-escola.

O projeto não somente iniciou a produção de material didático e a tradução de textos considerados como exemplares de saberes insurgentes, tentando contribuir para uma progressiva superação desta lacuna (o exemplo foi segunda Tecnologia Digital  em hipertexto “Sociologia e Autonomia”). Como desdobramento do projeto, foi iniciado um processo voltado para promover saberes descoloniais, envolvendo pesquisadores indígenas e/ou afro na sua produção.

Coordenação: Andrey Cordeiro Ferreira

 

2014 – 2017: Luta de Classes e Insurgências no Brasil: liberalismo, socialdemocracia e anarquismo em época de levantes populares e de crise mundial

As jornadas de junho, o levante popular ou ainda a revolta do vinagre, revolta da tarifa são termos que foram usados para qualificar ciclo de protestos e mobilizações populares que ocorreram no Brasil especialmente, mas não exclusivamente, no ano de junho de 2013. Estes acontecimentos constituem um fenômeno extremamente importante. De maneira geral, podemos dizer que ele provocou imediatamente um profundo desafio teórico e político, já que o levante, agora persistente, na Turquia foi seguido por uma revolta ainda maior no Brasil, que por sua vez foi acompanhada por manifestações menos noticiadas, mas não menos reais, na Bulgária. Obviamente, estes protestos não foram os primeiros, e muito menos os últimos, em uma série realmente mundial de revoltas, nos últimos anos. Trata-se de um levante? Trata-se de um ciclo de luta de classes do sistema mundial? Quais as classes, frações de classe ou camadas sociais que foram protagonistas? Existe uma crise de representação? Trata-se de movimentos espontâneos e desorganizados, que poderão ficar a mercê da política de direita? Os protestos populares de junho de 2013 marcaram profundamente a sociedade brasileira tendo repercussões mundiais. O objetivo dessa pesquisa é mostrar como anarquismo, liberalismo e social-democracia se confrontaram e confrontam desde os protestos de junho de 2013 numa luta teórica e ontológica (luta pelo real) com diferentes posições sobre a realidade do desenvolvimento capitalista e especificidade histórica de suas contradições de classe, constituindo diferentes visões de mundo. Nesse sentido, realizaremos uma pesquisa sobre as formas organizativas e a infrapolítica que desde junho de 2013 marca a dinâmica política do Brasil, co-relacionando essa análise a crítica das abordagens teóricas elitista e marxista que tentaram num primeiro momento explicar os protestos de junho de 2013.

Essa pesquisa resultou na publicação de dois relatórios com dados e uma análise detalhada de JJ13, que foi materializado num banco de dados que será pulicado no futuro.

Coordenação: Andrey Cordeiro Ferreira

 

2014-2017 : Greves e lutas insurgentes: a história da AIT e as origens do sindicalismo revolucionário

O objetivo da pesquisa foi analisar as diferentes concepções e práticas políticas das correntes e tendências do movimento sindical operário europeu do século XIX que atuaram na construção dos movimentos grevistas daquele período e convergiram para a organização da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), fundada em 1864. A pesquisa está centrada nos congressos da AIT de Genebra em 1866, Lausana em 1867, Bruxelas em 1868, Basileia em 1869, conferência de Londres em 1871 e o Congresso de Haia de 1872. Nesses congressos, o conjunto das correntes e tendências do movimento sindical da época – mutualistas, trade-unionistas, coletivistas, bakuninistas e marxistas – debateram e entraram em conflito pelo entendimento de quais seriam os melhores caminhos e estratégias do movimento. Coordenação: Selmo Nascimento da Silva (https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/trabalhoConclusao/viewTrabalhoConclusao.jsf?popup=true&id_trabalho=6220316#)

 

 2012 – 2016 : Estado, sindicalismo e questão agrária: o papel da CUT no desenvolvimento capitalista 2003-2012.

A presente tese resulta de uma pesquisa sobre a ação e o saber político produzidos pela CUT durante o período do Governo Lula (2003-2010) até as manifestações conjuntas de rua com a FIESP, ABIMAQ e centrais sindicais, como Força Sindical e União Geral dos Trabalhadores, embasada no arcabouço teórico do materialismo sociológico e da abordagem coletivista a partir de autores como Pierre Joseph Proudhon, Mikhail Bakunin e Georges Gurvitch. A tese nasceu da inquietação a respeito das abordagens sobre a trajetória política da CUT, sua suposta traição, e do sepultamento da questão agrária, sobretudo no que diz respeito à reforma agrária de cunho radical. Dessa maneira, estudamos o saber político, o sistema cognitivo, social-democrata, sobre o industrialismo e a questão agrária, retomando debate clássico entre marxistas e anarquistas acerca dessa questão e do desenvolvimento histórico da social-democracia e da aplicação desse modelo. Apresentamos como o modelo social-democrata se materializou, no Brasil, numa síntese nova, chamado de sindicalismo propositivo, que articula esse saber social-democrata com a estrutura sociopolítica brasileira, que se apresenta com a forte presença do pragmatismo sindical e eleitoral brasileiro. Dessa forma mostraremos como uma burocracia sindical desenvolveu uma prática de governo e um saber que permitiram a interpenetração das classes, principalmente por meio da participação no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CEDS), sendo este modelo de sindicalismo e seu sistema cognitivo fundamental para a prática de governo e interpenetração entre classes sociais em torno da Agenda Nacional de Desenvolvimento (AND) e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), contribuindo para o desenvolvimento do capitalismo no Brasil através de um favorecimento de uma aristocracia operária, base da burocracia sindical presente na gestão do Estado, e contribuindo para integração entre indústria e agricultura, como no caso dos carros flex-fluel, secundarizando a política de distribuição de terras.

Coordenação: Castro, Rômulo de Souza (https://tede.ufrrj.br/jspui/handle/jspui/1947)

2017-2019Questão nacional e revolução: estado-império e a libertação dos povos no pensamento político de Mikhail Bakunin

 A constituição dos Estados-Nações modernos foi marcada pelo estabelecimento da política da Nação Oficial, burguesa e centralista. Para Mikhail Bakunin essa política dos Estados-Impérios era fundada na conquista e na exploração dos povos-nações e da classe trabalhadora, que representavam o principal polo de Resistência a esse processo de dominação teológico-centralista sobre a natureza e sociedade. Neste trabalho analisamos como as relações centro-periferia e o Colonialismo Interno na Europa moldaram o pensamento político de Bakunin e estiveram na base das principais divergências do movimento popular-operário no século XIX. Buscamos compreender também, como Bakunin articulou uma interpretação anarquista da Questão Nacional que questionou o Direito Histórico dos Estados e a Política de Estado presente nos movimentos sociais e nacionais do período, apontando como estes acabaram por se integrar de diferentes maneiras as políticas imperiais do período, seja o industrialismo da social democracia alemã, assim como, os diferentes nacionalismos, mazzinista e paneslavista. Coordenação: Ariel Martins Carriconde Azevedo (https://tede.ufrrj.br/jspui/handle/jspui/5655)

2010 – 2011: “Capitalismo, escravidão e transformações históricas da economia doméstica: concepções de trabalho, processos de exploração e agência histórica entre comunidades quilombolas do Rio de Janeiro”

O objetivo desse foi (re)pensar a escravidão e sua relação com o desenvolvimento capitalista a partir análise contemporânea da condição social e concepções de trabalho de comunidades rurais negras ou remanescentes de quilombos. Iniciamos o estudo de as trajetórias de algumas dessas comunidades, analisando as transformações da economia doméstica e sua inserção em outras formas de trabalho, relacionando essas formas aos processos de etnicização e territorialização contemporâneos.

Coordenador: Andrey Cordeiro Ferreira

 

Ecologia Social e Antropologia do Território 2010 – 2018

 2010 – 2013: Desenvolvimento, agronegócio e territorialização: políticas (bio)energéticas e conflitos étnicos e agrários no Brasil

O presente projeto analisou a relação entre desenvolvimento, agronegócio e territorialização, a partir dos estudos de tais processos na região Centro-Oeste, nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, em que existe uma significativa expansão da fronteira da soja e da cana-de-açúcar com importantes conexões com as relações interétnicas. Estudamos, em particular, o impacto da política de bioenergia sobre os povos indígenas de Mato Grosso do Sul, analisando as contradições interétnicas e o papel o racismo nas relações capitalistas de produção.

Coordenação: Andrey Cordeiro Ferreira

2014 – 2022: Ecologia cultural e política da Energia: conflitos socioambientais, natureza e imperialismo

Descrição: O presente projeto tem como objeto as relações energéticas na sociedade brasileira. Entendemos por relações energéticas as formas pelas quais as sociedades controlam, convertem e usam para diferentes finalidades as fontes de energia, incluindo nesse âmbito a política energética (política de Estado que visa coordenar e planejar a produção, distribuição e uso de energia) e fluxos energéticos. Entendemos por fluxos energéticos o processo de produção e circulação da energia no mundo material, compreendendo as formas de conversão de energia na natureza (conversão da energia solar, conversão da energia mecânica em energia elétrica e etc.) e na sociedade (conversão da energia em trabalho produtivo). O projeto tem dois objetivos: 1) analisar as contradições das relações energéticas brasileiras, visto que a política energética vigente tem um objetivo expansionista (expandir a produção/distribuição de energia e o desenvolvimento econômico, ao mesmo tempo operando num contexto internacional que dificulta esta expansão e num contexto nacional em que tal expansão implica numa transformação das relações campo-cidade, zona costeira/interior, indústria-agricultura e natureza/sociedade); 2) analisar formas de conflitos socioambientais que surgem no quadro dessas relações energéticas expansionistas e dos atuais fluxos energéticos que aprofundam a exploração/expropriação da natureza e de diferentes povos tradicionais do campo e da cidade.

Coordenação: Andrey Cordeiro Ferreira

2018 – 2021:  Territórios e ontologias em disputas: as faces da resistência cotidiana entre coletivos humanos na América Latina

Descrição: Este projeto tem como objetivo abordar coletivos humanos da América Latina a partir da análise do território. O território é uma categoria chave para pensar as relações entre poder, concepções de natureza e cultura, ontologias e organização social. Compreendemos o território como o suporte material de coletividades portadoras de tradições, que elaboram estratégias socioculturais para viverem, resistirem e o retomarem dentro de um marco histórico preciso. A análise recai sobre processos (não exclusivamente locais) que permitem compreender as situações sociais, com as contradições e conflitos que lhes são constitutivos em sua dinâmica e virtualidades. Abordamos também a multiplicidade ontológica existente nesses territórios através dos diversos atores sociais que os compõem, bem como a inovação institucional na forma de conselhos, constituições e planos territoriais ali praticados. Outro foco de análise é sobre a dialética entre centralização/descentralização, no nível macro, e as relações de dominação/colaboração e resistência, no nível micro, que engendram, por sua vez, diferentes dialéticas territoriais e se expressam sob formas de organização/ordenamento do espaço, processos de territorialização e formação de territorialidades.

Coordenação: Carmen Andriolli

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