Ecologia social dos recursos naturais: biodiversidade, território e autonomias no capitalismo extrativo (2019-2026)
O presente projeto de pesquisa tem como objetivo analisar como um determinado regime de acumulação capitalista, denominado de neoextrativismo ou imperialismo extrativo, configurado a partir do final dos anos 1990 e início dos 2000, tem transformado as relações natureza/território/sociedade, com a intensificação de processos de expropriação territorial e landgrabbing (com a consequente reorganização do espaço agrário e urbano, levando à concentração e mercantilização de terras e refuncionalização dos espaços), e à intensificação de formas de resistência e lutas por autonomia (indígena, camponesa e de grupos subalternos nas cidades, o que tem aprofundado a conflitualidade étnica, ambiental, social e agrária) na América Latina e no mundo. No centro desse modelo está a luta pelo controle e exploração dos recursos naturais, dentre os quais ocupa posição chave os recursos minerais e não-minerais energéticos, mas de forma geral, todos os grupos de recursos naturais: recursos territoriais, recursos hídricos, recursos minerais, recursos florestais, recursos marinhos e inclusive, recursos humanos (sob a forma de trabalho). Cada recurso não aparece isoladamente, mas em grupos dentro de ecossistemas, territorialidades e sociedades diversas, que passam a ser, então, o locus de uma série de processos de transformação e conflitos. É justamente uma análise crítica, de como os recursos naturais estão colocados numa complexa trama, que pretendemos empreender aqui.
Coordenação: Andrey Cordeiro Ferreira e Carmen Andriolli, Financiamento Faperj (APQ1)
Ecologia social e geoecopolítica da energia: natureza, conflitos socioambientais e imperialismo (2022-2024)”
O objetivo do presente projeto é o pesquisar o que denominamos de luta pelo infrapoder energético e a geoecopolítica da energia. Por infrapoder energético, entendemos a capacidade de ação derivada do controle da energia, capacidade esta que pode ser entendida sob múltiplas óticas, especialmente como: controle dos recursos naturais energéticos; controle das organizações e instituições responsáveis pela produção e gestão da energia; instituição/imposição de um padrão de relações de produção, fluxos energéticos, sistemas tecnológicos e uma ?matriz energética?. Iremos adotar como recorte historiográfico o período entre 2010 e 2025, em que alguns processos estratégicos se desenrolaram e irão se desenrolar, mudando a configuração das relações internacionais, das dinâmicas continentais e subcontinentais/regionais e, inclusive, as relações entre sociedade civil global (povos, grupos étnicos, nações) e natureza/ecossistemas (a própria existência material e simbólica de tais sociedades). Em termos teóricos, realizaremos o estudo dos atos e performances, à luz de uma teoria materialista e dialética da práxis, englobando: atos e performances do Estado e do sistema interestatal e dos atores não-estatais (do que denominamos de economia-mundo e de sociedade civil global), os atos e performances relacionados ao infrapoder energético. Nesse escopo, iremos considerar o estudo estratégico das políticas estatais e não-estatais para energia/recursos naturais e clima-meio ambiente, bem como as formas de reação, adaptação e resistência das diferentes sociedades aos quadros históricos criados por tais atos e performances.
Coordenação: Andrey Cordeiro Ferreira, Financiamento Faperj (Bolsa IC)
Etnologia de identidades insurgentes: território, etnicidade e lutas por autonomia na Mata Atlântica
O objetivo teórico do presente projeto é analisar lutas por reconhecimento, território e autonomia na Mata Atlântica, analisando a experiência de lutas indígenas e quilombolas, bem como as formas de territorialização, adaptação ecológica e cultural de povos e comunidades tradicionais a diversas situações históricas de mudança social e ambiental. Nesse aspecto, iremos enfatizar o estudo de três dimensões: 1ª a dimensão da organização social e identitária, as formas específicas pelas quais as identidades étnicas se instituem, por meio de tradições culturais e sistemas cognitivos tradicionais (especialmente os saberes tecnológicos- produtivos, os saberes ambientais-espaciais, e sua lógica-racionalidade subjacente), analisando seu papel nos movimentos de resistência; 2ª o estudo da ecologia social dos grupos, estudando as estratégias adaptativas e os eventos ambientais significativos para a organização social e transformação espacial e organizacional de povos e comunidades tradicionais, bem como a transformação da paisagem; 3ª a dimensão das formas de resistência cotidiana e infrapolítica, a práxis social dos povos e comunidades tradicionais que desenvolvem diferentes tipos de projetos autonômicos e relações complexas e ambíguas com o Estado e atores da economia-mundial capitalista, como parte de suas estratégias de reprodução social e sobrevivência. Em termos teóricos, pretendemos revistar criticamente as diferentes contribuições da etnologia brasileira (o perspectivismo ameríndio, os estudos de relações interétnicas), agregando as contribuições críticas das teorias autonômicas e descoloniais, mostrando a centralidade histórica das insurgências e das formas autonômicas para a construção ontológica dos grupos. No escopo do projeto iremos também desenvolver estratégias e ações de extensão, relacionadas ao desenvolvimento humano e social, especialmente no apoio às políticas de educação voltadas ao fortalecimento da história e memória indígena e de matriz africana; a iniciativas voltadas para a expansão da agroecologia, produção e recuperação de saberes tradicionais produtivos. O objetivo extensionista do projeto se relaciona diretamente aos objetivos da Agenda 2030 dos direitos humanos, relacionando diversidade, clima e direitos de autodeterminação.
Coordenação: Andrey Cordeiro Ferreira, financiamento CNPQ (Bolsa IC)
As Tradições Una, Tupiguarani e a ressurgência Puri: arqueologia e Etno-história indígena do Rio de Janeiro”
Projeto de pesquisa interdisciplinar de arqueologia e antropologia registrado no IPHAN Processo nº 01500.002619/2023-85), coordenados por Andrey Cordeiro Ferreira e a arqueóloga Gina Bianchini, da Empresa Andrade & Bianchini Arqueologia e Patrimônio.
“Nós temos ou não temos Direitos?
Antropologia e direitos entre Caiçaras do Vale do Ribeira/SP”
O objetivo deste projeto é contribuir para a construção de uma interpretação antropológica que permita intervir no debate público sobre direitos de povos e comunidades tradicionais tal como expresso em vários dispositivos legais e supralegais. A questão de pesquisa é a forma pela qual uma comunidade tradicional se organiza para compatibilizar seus direitos com os objetivos de conservação em áreas protegidas. Analisarei os sentidos da categoria de direito mobilizado por três comunidades tradicionais caiçaras do Vale do Ribeira (SP), que tiveram seus territórios sobrepostos pelo Mosaico de Unidades de Conservação Jureia-Itatins. Há mais de 30 anos, acionam seus direitos, cuja efetivação tem sido negada. Essa violação se efetiva por meio de alguns dispositivos normativos e administrativos e de pesquisa elaborados pela fundação Florestal do Estado de São Paulo. O método de pesquisa será etnográfico, isto é, investigarei e descreverei em que consiste os direitos para essas comunidades tradicionais caiçaras. Do ponto de vista teórico, trata-se de uma etnografia implicada que, nos termos definidos por Bruce Albert, também considera sua aplicação no campo das políticas públicas e da justiça. A imposição de um sistema governamental de restrições sobre áreas protegidas nas quais não se admite ocupação humana não só expulsa populações locais, mas também destrói sistemas de governança de recursos naturais, isto é, noções de direitos, usos, propriedade e regras locais elaborados ao longo de várias gerações e que podem ser base para novos projetos de conservação. A originalidade do enfoque proposto é que pretendo acompanhar internamente o processo em curso através de análise de documentação jurídica, de interlocução com lideranças caiçaras e com seus assessores, dentre acadêmicos e juristas. Trata-se, portanto, de um experimento no qual se testam soluções cooperativas para a resolução de conflitos que opõem a conservação (natureza) e os direitos humanos (sociedade).
Coordenação: Carmen Andriolli, Bolsa Jovem Cientista do Nosso Estado/FAPERJ e Bolsa IC